sábado, 1 de março de 2014

           SEM VEZ, SEM VOZ


Quando tua presença for motivo de
Aborrecimentos, secussão, rejeição
E te lançarem olhares de menosprezo,
O aviltante olhar de insignificância,
Quando te designarem o título de
Analfabeto, louco, idiota,
Lembra-te: eles é que são culpados disso,
Portanto, não entres em discussão.
Quando da sombria noite,
O frio engelhar-te os pelos,
O medo sacudir-te o peito,
Quando da vida a incerteza te gelar a alma,
Quando frente a frente com o infortúnio,
Sentires o desvario do medo
Lembra-te, agora, és culpado por isso.
Quando da vida te achares preso
E vires no tribunal dos poderosos
As leis falharem contra ti

E estiveres prestes a quedar
Com o fardo sobre teus ombros,
Quando receberes o nada a que tens direito,
Sabes que precisas ter controle emocional,
Portanto, não reclames dos homens.
Quando vires tua prole chorar de fome,
Quando te desalojarem da tua casa,
Quando te faltarem as forças da luta,
Não te aflijas, lembra-te de que
Por não teres vez nem voz
Não és cidadão.
Sofre calado a tua miséria.
Não digas nada.
Se um dia fores convocado para
Opinar, votar, dar o teu testemunho,
Não podes: não entendes de política.
Se vires movimentos de protestos
E sentires desejo de participar, não podes,
Não tens direito a nada,
Só podes uma coisa: ficar em silêncio.
Isto pode ser a tua libertação,

Portanto, desperta e não digas nada.

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